“O processo de desindustrialização ocorre desde a década de 1980. Pensar no conjuntural não faz sentido”, diz. Nesse sentido, Rocha é cauteloso ao avaliar a medida do governo de reduzir – primeiro em 25%, mas com promessa de chegar a 33% – o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre a maior parte dos bens da economia.
Para ele, é difícil mensurar qual será o impacto para a indústria. Além de ser impossível, segundo Rocha, avaliar quanto cada setor optará repassar a redução do imposto aos preços, parte do potencial efeito da desoneração é consumido, neste momento, pelo aumento no preço global dos insumos. Ainda que considere que as disfunções da cadeia mundial de suprimentos sejam menores agora do que no ápice da pandemia, o economista lembra que a margem das empresas segue apertada.
Para Rocha, a gestão da Fiesp sobre a batuta de Josué Gomes da Silva teria entendido que o caminho para barrar o processo de desindustrialização no País passa por reformas mais amplas. “Não queremos pagar menos do que ninguém, não queremos nenhuma benesse”, afirma.
Ele endossa o discurso da reforma tributária como mote principal da pauta da indústria, mas evita comentar os impactos dos projetos atuais. “É difícil calcular, falta número”, diz. Além disso, aponta que esta é uma das áreas que a Fiesp tenta encontrar consenso, com setores como serviços, construção civil e agronegócio com ressalvas importantes aos projetos em tramitação.
No discurso estrutural, o economista também aponta que o Estado precisa recuperar o poder de investir, em alguma medida, na economia. Para ele, uma política econômica de Estado máximo não funciona, mas o governo precisa recuperar espaço orçamentário para investir e, acima disso, planejar. “O Brasil perdeu a capacidade de planejamento de longo prazo”, diz. Nesse contexto, defende que os investimentos sejam retirados do teto de gastos. E faz um paralelo com o mundo corporativo: “As empresas têm o Opex e o Capex. E nenhuma delas faz ajuste no Capex”.
Tom
Na pauta econômica, a mudança na gestão da Fiesp, que marcou também a chegada de Rocha ao posto de economista-chefe, levou a entidade a alterar uma das suas mais tradicionais publicações: o comunicado pós-Copom. Se quando Paulo Skaf estava à frente da federação o tom era duro contra o Banco Central elevava os juros e elogioso quando a Selic ia para baixo, o texto passou a debater também o cenário macro.
Em fevereiro, quando a Selic voltou a dois dígitos, o comunicado da Fiesp criticou o novo nível da taxa, mas disse que “deveriam incomodar muito mais as razões que movem o Copom a refrear a atividade econômica já combalida” e pensar além da decisão de política monetária. Em março, com a Selic já em 11,75%, a entidade anunciou um grupo de trabalho com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para debater as razões do juro alto no País. “Estamos com olhar mais amplo, estrutural. Senão ficamos de analista de elevador”, diz Rocha.
E não é só na política econômica a mudança de rota da Fiesp. Repetindo o recado já dado pelo novo gestor da fundação – filho do ex-vice-presidente da República José Alencar -, Rocha afirma que a entidade quer se descolar da política. Os 17 anos de Skaf à frente da Fiesp foram marcados por um posicionamento político forte, e, não raro, eleitoral. Nesse intervalo, o próprio ex-presidente se licenciou do cargo três vezes para disputar – sem êxito – o Palácio dos Bandeirantes. Ele também liderou pessoalmente em 2015 a campanha ‘Não vamos pagar o pato’, contra a proposta de volta da CPMF, que desaguou no apoio formal da entidade ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no ano seguinte.
Da entidade, Rocha garante que não se deve esperar posicionamentos explícitos de apoio a este ou aquele lado da disputa eleitoral de 2022. “Estamos prontos para dialogar com qualquer um que vença as eleições”, afirma. “Repetindo as palavras do nosso presidente Josué, esta é uma gestão apolítica. E assim será.”